sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Escola Pública, Reprovação, Evasão etc




Sou professor de escola pública, 21anos de exercício do magistério, rede municipal e estadual, ensino fundamental e médio.

 Nunca gostei de comparações do desempenho das escolas, sejam privadas ou públicas, com produções de indústrias, agropecuária, hospitais etc. Porém é muito insatisfatório e indignante perceber um grupo de profissionais da educação, notadamente os professores, transferirem a responsabilidade do insucesso dos alunos para os níveis educacionais anteriores, para os pais, para o governo e para os próprios alunos e não assumir nenhuma parcela do resultado final do seu trabalho.

Deste modo se em um rodeio de vacas de cria se consegue 60, 70% de prenhez isto é resultado da atuação dos touros, do manejo do pecuarista e de seus empregados, da condição climática etc. É o somatório dos fatores que dá o resultado final, todos os atores envolvidos, e eles sempre são vários,  contribuem para o desempenho obtido.

Na educação parece existir uma mágica que exclui o professor do fracasso dos seus alunos. O insucesso destes sempre é causado por sua "falta de base" (ensino médio culpa o fundamental, que pode responsabilizar a educação infantil, que culpa os pais etc) , pela sua condição social, por seus problemas pessoais e familiares, por ter ocorrido uma "massificação da educação" etc.

Bueno, certa vez uma professora estava palestrando, ela atuava na universidade, e relatou uma situação interessante:seu começo no magistério foi como alfabetizadora, depois atuou em turmas do curso magistério. Percebeu ela então que queixar-se de "falta de base" era atribuir-lhe a responsabilidade que costumamos repassar aos outros, visto que muitos alunos atuais haviam sido seus alunos no passado.

É sempre mais doloroso olhar para si e reconhecer limitações, imperfeições, incapacidades, possibilidades de mudança. Admitir que podemos melhorar é simplesmente reconhecer que somos humanos, que sempre temos um algo mais para oferecer.

Parece que a escola pública não reconhece ou não se preparou para trabalhar com os alunos das classes menos favorecidas. Alunos são seres humanos, eles apresentam suas idiossincrasias. Têm histórias de vida diferentes, cheiros, cores, tribos etc. Tudo próprio da juventude, de cada classe social. Esta "massificação" foi possível pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pelo FUNDEF e pelo FUNDEB e é muito bem vinda. É oportuno abordar a questão dos analfabetos funcionais, dependendo do teste nós podemos cair neste grupo, manuais de celulares e outras coisas do tipo não são nada práticos. É um ranço escorraçar os alunos menos favorecidos economicamente, os pobres da escola. Com estas atitudes vamos firmar o fosso social brasileiro.

Do mesmo modo que não assume parcela no fracasso dos seus discentes, os docentes adoram citar os seus casos de sucesso, os alunos que formam-se em medicina, direito, fisioterapia etc. Vejam como este ato confirma uma visão unidirecional, tudo de bom é nossa responsabilidade.No mais os alunos que se desvirtuarem na vida não são de nossa alçada. Isto retira do professor um dos maiores motivos para que lutemos por melhores salários e condições de trabalho, nós podemos tentar melhorar as condições de vida dos brasileiros por meio da instrução.Mas talvez não seja mais necessário informar detalhadamente como ocorre a mitose ou saber montar um cubo com medidas exatas, a sociedade mudou, os alunos mudaram e nós professores temos que mudar.

Dar aulas é uma relação interpessoal, das mais complicadas. Existe um processo chamado de ensino-aprendizagem e podem ocorrer problemas em ambos os lados do sistema, ou seja, na "ensinagem" ou na aprendizagem.


Professores e alunos podem e devem ter uma boa relação, eles não são adversários, alunos são elementos do processo educacional em igual importância, não são inimigos.




SEMENTES DO AMANHÃ(GONZAGUINHA)

 Ontem o menino que brincava me falou
Que hoje é semente do amanhã
Para não ter medo que esse tempo vai passar
Não se desespere não, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo
Nós podemos mais 
Vamos lá fazer o que será

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