Reproduzo abaixo texto publicado no jornal Zero Hora, do dia 15/03/2010 que nos dá um pouco do outro lado sobre as mudanças climáticas. Sempre é bom praticarmos o "benefício da dúvida", a boa desconfiança da marcha cega do rebanho. Consultem também os céticos do clima, os estudos do cientista Luiz Carlos Baldicero Molion, etc.
CIÊNCIA CLIMÁTICA OU EVANGELIZAÇÃO CLIMÁTICA?
Como George W. Bush e Tony Blair aprenderam do jeito mais difícil, as pessoas não gostam de ser enganadas sobre a origem de ameaças em potencial. A revelação de que as razões para invadir o Iraque eram muito exageradas – e, em alguns casos, completamente inventadas – provocou uma reação adversa que ajudou a tirar o Partido Republicano do poder nos Estados Unidos em 2008, e que pode fazer o mesmo com o Partido Trabalhista britânico no final deste ano.
Uma mudança similar na opinião pública mundial está acontecendo em relação às mudanças climáticas. O processo ganhou impulso no final do ano passado, após hackers vazarem milhares de e-mails de um renomado centro britânico de pesquisa, mostrando que alguns dos mais influentes climatologistas vinham tentando disfarçar falhas em seu trabalho, bloqueando pesquisas e tramando para reforçar o que remonta a uma linha partidária sobre mudanças do clima. Mais recentemente, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), respeitado grupo consultivo das Nações Unidos, foi profundamente constrangido pela revelação de que algumas previsões alarmantes de um informe influente, lançado em 2007, tinham pouca ou nenhuma base científica.
Apesar de nenhum desses lapsos dar qualquer motivo para duvidar de que o aquecimento global é real, causado pelo homem, e que irá criar problemas para nós, esses desafios ao IPCC estão fazendo estragos. De fato, estudos recentes mostram que cresce cada vez menos a crença da opinião pública no consenso científico sobre o aquecimento global.
As maiores manchetes sobre os erros do IPCC falam de um alerta sobre o derretimento das geleiras do Himalaia feito em seu informe de 2007 sobre os possíveis impactos das mudanças climáticas. “As geleiras do Himalaia estão diminuindo mais rápido do que em qualquer outra parte do mundo”, disse o relatório, acrescentando que “se o ritmo atual persistir, a possibilidade de elas desapareceram até o ano 2035, talvez antes, é muito alta”. Como se viu, essa previsão não se baseava em nenhuma pesquisa científica revisada por especialistas, e sim fora tirada de um relatório da WWF (World Wildlife Fund), que repercutia uma especulação não-comprovada de um único pesquisador.
Essa falta de base científica não impediu inúmeros ativistas contra o aquecimento global de citar a previsão sobre as geleiras a qualquer oportunidade. Quando o governo da Índia afirmou no ano passado que as geleiras do Himalaia estavam em uma forma melhor do que a alegada pelo IPCC, o presidente do painel, Rajendra Pachauri, desdenhou das objeções alegando que eram baseadas em “ciência de vodu”.
Recentemente, o governo indiano reagiu às revelações sobre a falta de embasamento dos alertas sobre as geleiras anunciando planos de estabelecer o que parece ser seu próprio “IPCC indiano”, para medir o impacto do aquecimento global. O ministro do Ambiente, Jairam Ramesh, declarou:
– Há uma linha tênue entre ciência climática e evangelização climática. Eu estou do lado da ciência climática.
Evangelização climática é uma descrição correta para o que o IPCC tem feito, por ter exagerado algumas das ramificações das mudanças no clima visando chamar a atenção dos políticos. Murari Lal, principal autor do relatório do IPCC que continha o erro sobre o Himalaia, admitiu que ele e seus colegas sabiam que a previsão dramática sobre as geleiras não era baseada em nenhuma ciência revisada por especialistas. Como se não bastasse, ele explicou:
– Nós pensamos que se pudéssemos chamar a atenção, isso impactaria legisladores e políticos, encorajando-os a fazer alguma ação concreta.
A ação concreta que eles tinham em mente era levar os governos a determinarem cortes drásticos nas emissões de dióxido de carbono. Os ativistas têm insistido nessa abordagem para combater o aquecimento global sem sucesso por 20 anos, mais recentemente no fracassado encontro sobre o clima de dezembro em Copenhague. O problema é que é uma solução muito cara para os políticos e a opinião pública engolirem facilmente – e é por isso que muitos cientistas climáticos bem-intencionados aparentemente concluíram que ao invés de acreditar em discussões bem fundamentadas, eles poderiam muito bem assustar a nós, os tolos.
Considere o que o IPCC teve de dizer sobre fenômenos naturais extremos, como intensos furacões. O custo desses eventos em termos de destruição de propriedades e distúrbio econômico tem aumentado constantemente. Todos estudos feitos por especialistas têm mostrado que isso não é uma consequência do aumento da temperatura, mas sim porque mais pessoas vivem de forma perigosa.
Além disso, na influente avaliação das mudanças climáticas de 2007 do IPCC, O Grupo de Trabalho II do painel (encarregado de avaliar o potencial de impacto do aquecimento global) escolheu citar um então inédito estudo que supostamente descobrira que o aquecimento global tinha dobrado os custos de danos nos últimos 35 anos. Na verdade, quando esse estudo foi finalmente publicado, declarava categoricamente que havia “evidências insuficientes” para ligar o aumento das perdas ao aquecimento global. Em outras palavras, o que o Grupo de Trabalho II informou estava totalmente errado.
Também na avaliação de 2007, o Grupo de Trabalho II alertou que “até 40% da floresta Amazônica” estava sob risco eminente de ser destruída pelo aquecimento global. A base para esse alerta era um único relatório da WWF que por sua vez citava um único estudo, que nem mesmo tratava de mudanças climáticas, mas sim do impacto das ações humanas como o corte de árvores e queimadas. De forma semelhante, o Grupo de Trabalho II alertou que “por volta de 2020, em alguns países (africanos), rendimentos provenientes da agricultura pluvial poderiam ser reduzidos em até 50%”. Muito citada desde então, essa alarmante estatística se baseia em um único ponto de um informe de uma instituição de pesquisa ambiental.
Há outros numerosos exemplos de travessuras similares feitas pelo Grupo de Trabalho II. Então, afora uma relutante admissão de que suas previsões sobre as geleiras do Himalaia tinham “fundamentos deficientes”, teria ainda que reconhecer – muito menos do que pedir desculpas por – qualquer um dos lapsos.
Se o IPCC quer fazer seu trabalho de forma correta, deve confessar todos os seus erros e arrumar a casa. Ninguém espera que ele seja infalível. Mas nós também não devemos tolerar suas tentativas de assustar os legisladores ao invés de informá-los.
Tradução: Pedro Moreira
BJØRN LOMBORG
Nenhum comentário:
Postar um comentário